A ILUSTRAÇÃO DE ARQUITETURA E PAISAGISMO COM O DESENHO À MÃO

Neste artigo apresentamos algumas considerações sobre a utilidade do desenho à mão livre e com instrumentos tradicionais na ilustração de arquitetura e paisagismo.

Na área de arquitetura, urbanismo, paisagismo, design de interiores e afins, os projetos podem ser representados graficamente através do desenho à mão ou digitalmente.

Tradicionalmente, os projetos eram criados só com o desenho à mão. Hoje, na profissão do arquiteto e designer, o desenho à mão foi substituído quase totalmente por softwares que oferecem mais rapidez e precisão. Porém, o desenho à mão ainda é usado durante o processo projetual para representar esboços rápidos de ideias preliminares, na criação de conceitos estéticos, ou nos estudos de detalhamento de projetos.

Apesar do pouco uso do desenho à mão, sempre haverá pessoas que gostam e praticam o desenho. Para os amantes desse tipo de representação arquitetônica, existe um nicho a ser explorado: a ilustração de arquitetura e paisagismo.

O que se entende por ilustração de arquitetura

A princípio, a ilustração arquitetônica e paisagística é um tipo de representação visual que tem o objetivo de transmitir a ideia de um projeto de forma clara para os clientes e profissionais da área como arquitetos, engenheiros, designers e outros envolvidos no projeto de construção.

As ilustrações podem ser utilizadas para mostrar uma variedade de elementos do projeto ou do espaço já construído, como plantas baixas, fachadas, cortes e perspectivas lineares ou axonométricas. Estes desenhos podem ajudar a visualizar a ideia preliminar do projeto ou a tomar decisões e resolver questões de composição e detalhamento arquitetônico.

Uma forma de representação muito difundida na área da ilustração arquitetônica é a perspectiva linear (projeção cônica) dos projetos, que substitui os renders computorizados. A figura 1 mostra um exemplo de perspectiva de um projeto de design de interiores.

A ilustração de arquitetura é desenho técnico ou artístico?

A ilustração de arquitetura pode ser considerada tanto um desenho técnico quanto um desenho artístico, a depender de qual vai ser o seu uso específico, da técnica de realização e do nível de detalhamento do desenho.

No desenho técnico, a ilustração de arquitetura é utilizada para representar as características físicas de um projeto de construção, incluindo medidas, materiais e detalhes construtivos. Pode ser realizado em 2D (vistas ortográficas que precisam seguir normas e padrões técnicos) ou em 3D (perspectivas).

A figura 2 mostra um exemplo de ilustração para um detalhe construtivo, que pode ser considerada técnica, apesar de ter sido realizada à mão livre.

Por outro lado, a ilustração de arquitetura e paisagismo pode ser avaliada como um desenho artístico, principalmente quando é realizada à mão livre. Isso porque, usando determinadas técnicas de representação como por exemplo grafite, carvão, aquarela, pasteis (como o exemplo da figura 3), dá ao desenho uma imagem mais expressiva e pictórica, do que técnica. Essa representação artística é usada para transmitir a atmosfera, a sensação ou a estética de um espaço projetado.

Integração entre técnico e artístico

Uma outra forma de visualizar a ilustração de arquitetura e paisagem seria por meio da integração dessas duas categorias (técnica e artística) no mesmo desenho. Isso pode ser feito utilizando um desenho mais preciso e rigoroso, com um efeito artístico de luz e sombra das superfícies, cores e texturas dos materiais.

Um exemplo seria fazer o desenho da perspectiva com grafite e nanquim usando esquadros, e pintar com aquarela ou pastel seco, que são técnicas mais artísticas.

Outra possibilidade é criar desenhos técnicos em 2D como planta-baixa, cortes, fachadas, e humanizar os ambientes com efeitos de texturas dos materiais, sombras projetadas, e desenho de pessoas inseridas no projeto.

Ou ainda, outro exemplo pode ser realizar o desenho em perspectiva com sombreamento e texturas semi-realistas, e adicionar as cotas, como mostra o exemplo da figura 4. Nesse trabalho as cotas foram adicionadas usando um software computacional, mas o desenho do objeto foi realizado inteiramente à mão.

Diferenças entre ilustração de arquitetura à mão livre e digital

As ilustrações podem ser feitas com técnicas de desenho e ferramentas variadas:

Desenhos à mão livre com grafite, canetas nanquim, aquarelas, lápis de cor, pasteis etc.. O ilustrador utiliza suas habilidades manuais para criar os desenhos com um toque mais técnico ou mais artístico, podendo dar um estilo pessoal à ilustração.

Técnicas de desenho digital 2D ou de modelagem e renderização 3D. Na ilustração digital em 2D o ilustrador utiliza uma mesa digitalizadora, um mouse ou uma caneta digital para criar os desenhos. Essa técnica permite um maior controle e precisão, além de oferecer recursos como camadas e ajustes mais fáceis. As camadas podem ser usadas de forma independente com mais ou menos opacidade e transparência. Já na ilustração em 3D o ilustrador precisa primeiro criar o modelo dos objetos, respeitando as medidas e proporções do projeto. Depois segue com a aplicação das texturas dos materiais e indicação das luzes, para gerar as imagens de renderização que podem alcançar um alto nível visual de realismo.

Técnicas híbridas integrando o desenho à mão com os softwares computacionais. Como mostra o exemplo na figura 5, o desenho foi realizado à mão livre com lápis de grafite e, em seguida, foram adicionadas digitalmente as cores, sombras e figuras humanas, com software de edição de imagem 2D.

A partir dessas diferenças entre as técnicas à mão livre ou digital, podemos entender que, por meio do desenho à mão livre, é possível transmitir uma sensação mais orgânica e uma atmosfera artística, com traços e texturas únicas e reconhecíveis.

Por outro lado, a ilustração digital oferece uma precisão técnica e a possibilidade de criar imagens mais realistas ou estilizadas.  

Objetivos da ilustração da arquitetura com o desenho à mão livre

Com o uso de desenho à mão livre nas ilustrações de arquitetura e paisagismo, busca-se capturar a essência do projeto ou do ambiente construído e comunicar a intenção do arquiteto de maneira mais livre e subjetiva. Nesse sentido, as ilustrações podem ter os seguintes objetivos:

1 – Criar imagens que dão forma a novos conceitos de arquitetura, design, paisagens etc., por meio de esboços à mão livre, de forma rápida e flexível. Esses sketches conceituais têm uma forte expressividade e um alto poder de comunicação das ideias e soluções de composição, formas e cores.

2 – Valorizar o património histórico e cultural por meio da documentação gráfica. Os desenhos também têm valor histórico e podem ser utilizados para registrar momentos significativos, preservando a visão específica do arquiteto ou ilustrador, como o exemplo da figura 6.

3 – Apresentar imagens para propaganda e venda de produtos (projetos) à potenciais clientes e investidores. Por meio da técnica do desenho à mão, as ilustrações arquitetônicas e paisagísticas se destacam da maioria das imagens digitais renderizadas, transmitindo uma visão de projeto, de processo projetual sensível às alterações, despertando emoções e envolvendo as pessoas de forma mais impactante do que uma representação técnica fria.

Benefícios da ilustração com o desenho à mão livre em arquitetura

As ilustrações de arquitetura e paisagismo feitas com desenho à mão trazem uma série de benefícios, como:

Os ilustradores podem expressar a sua criatividade de forma única, refletindo no desenho o estilo individual.

O desenho à mão livre é uma forma de comunicação visual rápida e eficiente, principalmente para representar ideias de projeto. Pode ser praticado em qualquer lugar com agilidade e versatilidade, e não precisa de ferramentas digitais.

Esse tipo de ilustração pode criar uma conexão mais próxima com o cliente, pois tem um aspecto mais humano que pode facilitar a identificação das pessoas com o projeto. Isso porque os traços orgânicos e expressivos criam uma atmosfera visual que transmite emoções e sensações de forma mais envolvente do que uma fotografia ou uma renderização digital.

A ilustração à mão livre permite uma maior experimentação de técnicas e soluções de arquitetura e design, auxiliando na criação de novas formas e proporções espaciais de forma mais rápida e intuitiva.

Por fim, podemos concluir que a ilustração de arquitetura e paisagismo com o desenho à mão traz à tona um encanto artístico de ambientes e objetos, que na realidade passam despercebidos ou desprezados. Por isso, desenhar fragmentos de edificações ou de paisagens com um olhar sensível, significa também valorizar o patrimônio existente, percebendo a sua riqueza de detalhes e beleza.

Conheça aqui o trabalho de Eduardo Bajzek, o maior ilustrador de arquitetura do Brasil. Para aprender mais sobre a ilustração de arquitetura, pode adquirir o livro: técnicas de ilustração à mão livre – do ambiente construído à paisagem urbana.

Me conta nos comentários o que você acha desse tema da ilustração de arquitetura e paisagem com o desenho à mão.